Há uns anos atrás, fui passar férias com a M. em Cascais. Estava um dia mau para ir à praia e, por isso, decidimos ficar por casa. Para quem se torna numa lagosta com facilidade, soube bem dar uma folga à pele. Ainda assim, tivemos um dia diferente. Comprámos caixas de madeira e passámos o dia inteiro a pintá-las. Tinha eu 16 anos na altura e lembro-me que foi algo que me deu muito prazer e, no entanto, nunca mais voltei a fazê-lo. Até há umas semanas atrás. Ocasionalmente, ia pensando naquela tarde de Verão mas o tempo ia apaziguando a memória. Ou melhor, eu ia criando mil e um obstáculos: "Não vou estar a gastar dinheiro com tintas" ou "Credo, vou ficar com o quarto todo sujo" e ainda: "Que raio vou fazer depois com o que pintei?" Sete anos depois, encontrei as respostas. O material não é assim tão caro (e vida de trabalhador é muito diferente da de estudante) e quando acabo de pintar as coisas ou fico com a peça para mim ou ofereço a amigos. É gratificante ver o ar de surpresa no rosto deles. Quanto ao quarto sujo... bem, para uma pessoa que é naturalmente trapalhona não é fácil. Quando dou por mim já está um pincel manchado de tinta caído no tapete ou a manga do robe com uma pitada de verde. Mas vale tudo a pena. Muitas vezes, dou por mim a rir-me sozinha ao besuntar os dedos nas tintas. E, sem dúvida, que as minhas manhãs de folga ganharam um sabor diferente.
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