Foram mais duas aulas seguidas. Chegámos ao centro de exames, em Chelas e ele diz:
- Vamos fazer uma simulação de exame?
- Sim, pode ser.
- Tens é de escolher um percurso.
- A... pode ser o de Alvalade.
O que me tinha calhado no exame. Quando íamos a sair do centro, pergunto:
- Isso significa que não vais falar mais comigo, a não ser para me dar indicações?
- Sim, vá é só até ao ponto de troca.
Eu que estava entretida com a conversa lá concordei. Fizemos tudo tal e qual no exame, a inversão de sentido de marcha no mesmo sítio, tudo igual. Tinha acabado de virar à esquerda quando ele, de súbito, desencosta-se do banco e pede-me para parar. Por baixo dos óculos escuros, ele olhava para mim com um ar esquisito.
- O que é se passa, B.?
Olhei para todos os cantos do carro à procura de algo. "Ai mãe, tu queres ver que é a jante que está quase a roçar no passeio? Mas não pode ser, eu fiz tudo bem..." Por fim, ele responde:
- Ah, nada, era só para ver uma coisa. Podes arrancar.
- ....
Estávamos numa subida, no exacto sítio onde deixei o carro ir abaixo no exame (e que milagrosamente consegui arrancar depois). Ia entrar na rua principal quando, de repente, passam três carros por nós. Ali estava um belo Mercedes vermelho, com a je a fazer o ponto de embraiagem para que ele não fosse com o caraças com a lei da gravidade.
- A sério, B.?
- A vida é tão injusta.
Quando finalmente consigo entrar na rua principal, oiço:
- Mas com força de vontade tudo se consegue.
É claro que depois deito tudo a perder com uma segunda mudança colocada demasiado cedo numa subida, mas isso já são outras coisas.